Nesta entrevista, a engenheira Roseméri Rosa, nossa COO, explica porque a transformação digital não se resume à tecnologia. Ela defende que o sucesso de um projeto de transformação digital passa por três pilares: processos, pessoas e tecnologia.
No início da nossa conversa, a engenheira de produção relembrou a história icônica da portaria onde se exigia na saída do visitante a entrega de um papel assinado pelo respectivo setor. Um dia, o visitante, ao ser impedido de sair por ter esquecido, deu meia volta e falsificou a assinatura. O porteiro nem identificou que em tão poucos minutos não seria possível ter conseguido. Agindo no “piloto automático”, guiado por um conjunto de regras que “sempre foram assim”, ele simplesmente depositou o papel em uma gaveta repleta de outros, colocando a informação em lugar nenhum.
“É o clássico exemplo de informações que não se conectam, não geram valor e não cumprem o objetivo, totalmente o oposto do que alcançamos quando entramos na jornada da transformação digital”,
avalia. Confira a entrevista completa.
A tecnologia será inserida em um processo, vai fazer parte, vai ser uma parte. O processo precisa estar adequado para receber a nova tecnologia; ela, por si só, não faz milagre. O processo precisa estar desenhado para recebê-la.
Sempre orientamos nossos clientes sobre a existência de dois fluxos: o de processo e o da informação. Se o segundo não está de acordo com o primeiro, você não tem resultado que gera valor. Por exemplo, você não conseguirá implantar um processo de rastreabilidade se o fluxo da informação não estiver adequado a essa necessidade e se não houver integração de sistemas. Ou seja, se você não tiver dados inseridos desde o início do processo e em condições de serem aproveitados ao longo de todas as etapas.
Essa visão está sempre no escopo dos nossos projetos, ainda que não estejam ligados diretamente à tecnologia. É fundamental por trazer ganhos qualitativos, não monetários, mas que consolidam a transformação digital.
Alguns clientes nos procuram dizendo que querem RFID para resolver seus problemas com inventário. Nós respondemos: ok, a tecnologia vai te entregar essa solução mas teu processo precisa estar adequado para recebê-la. Se não, você automatiza o caos. A tecnologia recebe qualquer input, mas essa informação sozinha não vai te agregar o suficiente.
As pessoas são as agentes de mudanças e de transformação. Quando se entra em uma jornada com esse objetivo, é preciso que as pessoas estejam abertas às mudanças. É preciso atenção a isso, pois trata-se de uma barreira quando as pessoas não estão dispostas a quebrar paradigmas, ficam submersas na famosa “síndrome de Gabriela”, com a mentalidade de que “sempre foi assim”, principalmente as lideranças.
Há certo tempo já ouvimos que a transformação digital mudaria o perfil dos profissionais e as profissões, ocorre que muitos ficaram paralisados no receio de que a tecnologia prejudicaria a empregabilidade, em vez de apenas substituir mão-de-obra. Esses precisam avançar. Afinal, não adianta gerar dados se não há pessoas preparadas para analisar e tomar decisões.
Vejamos o exemplo envolvendo a aplicação da tecnologia nos processos de conferência. O papel do conferente mudou, ele deixa de ser meramente operacional e passa a ser mais analítico. Os sensores passam a cumprir a função anterior e alçam o profissional à responsável pela cadeia de ajuda, ele vai analisar os indicativos de não conformidade e tomar decisões, quando antes passava o expediente sem nem saber o que estava digitando em um sistema que quando os dados chegavam, de tão tarde, já não serviam para mais nada.
Processos. Ao elaborar o mapa de fluxo de valor, você identifica a sua cadeia de valor, olha os seus processos por etapa e tem a oportunidade de identificar os principais desperdícios, aquilo que o seu cliente não paga, conforme preconiza o conceito de 8 desperdícios do Lean Manufacturing.
Esses desperdícios identificados precisam ser minimizados, se não houver como eliminá-los. Um exemplo é a movimentação no setor de estoque. Enquanto um profissional se desloca, não gera nenhum valor. Fazendo o mapa de fluxo de valor é possível identificar ajustes de processos, oportunidades de reorganização do trabalho e de treinamento para as pessoas, além da tecnologia possível. Primeiro você mapeia e responde: de quais informações eu preciso? Depois, encontra a tecnologia para isso.
Exatamente. A transformação digital precisa estar no planejamento estratégico da empresa. Todos os setores, todas as lideranças, todos os níveis precisam estar com a mesma visão, de que estão em um momento de transformação digital. Trata-se de um movimento da empresa, não de uma área só. Se a iniciativa partiu de uma pessoa, já nasceu comprometida. E nos chama a atenção o quanto as áreas de TI e de RH não estão preparadas para a transformação digital, isso precisa mudar com urgência.
Tá bem distante, no nosso mercado. Percebemos que muitos querem a transformação digital mas em ações isoladas. Até encontramos clientes que identificaram seu nível de maturidade e traçaram planos, mas são poucos. Várias empresas acham que criando uma área de inovação estão na jornada. Só que essa área apenas fomenta a transformação digital, não a promove sozinha. Outros empresários acham que ao criarem uma incubadora ou uma aceleradora, entraram na transformação digital. A Alemanha, grande propulsora da indústria 4.0, tem uma ferramenta consolidada de avaliação, são mais de 200 perguntas para entender o nível de maturidade, que comprovam o quanto a transformação digital passa por diferentes áreas e vai muito além.
Que busquem qualificar o mindset. Há uma carência de pessoas com essa visão dos três pilares. A área de TI não conhece de processos, a área de processos não conhece de tecnologia, e a área de recursos humanos não entende de nenhum dos dois. Isso precisa mudar. A transformação digital não é um botão que se aperta, é uma jornada.
Confira também a entrevista da Roseméri ao SC Inova sobre como planejar a transformação digital nas empresas: